Amados irmãos e irmãs em Cristo,
As leituras deste 16º Domingo do Tempo Comum nos conduzem a refletir sobre a arte do acolhimento, a escuta da Palavra e a centralidade de Cristo em nossa vida. Somos convidados a reconhecer que Deus não apenas visita, mas permanece onde há fé, hospitalidade e atenção verdadeira ao que Ele deseja nos dizer.
Na primeira leitura, do livro do Gênesis, vemos Abraão acolhendo três misteriosos visitantes junto ao carvalho de Mambré. Sem saber, está acolhendo o próprio Senhor. Seu gesto de hospitalidade é carregado de reverência, generosidade e prontidão. Abraão não economiza esforços para servir bem aos que chegam — e como fruto dessa acolhida, recebe a promessa de que Sara, mesmo na velhice, terá um filho. Deus visita quem sabe acolher.
No Evangelho, vemos outra cena de acolhimento: Jesus é recebido na casa de Marta e Maria. Marta, como Abraão, se ocupa em servir. Maria, porém, escolhe sentar-se aos pés do Mestre e escutá-lo. A reação de Jesus é surpreendente: Ele não condena o serviço de Marta, mas aponta que Maria escolheu a “melhor parte”. Isso não é desprezo pela ação, mas um chamado à prioridade da escuta, da contemplação, do estar com o Senhor antes de fazer coisas por Ele. É preciso deixar-se alimentar pela Palavra antes de querer servir com eficiência.
Essas duas mulheres representam dimensões complementares da vida cristã: Marta simboliza a ação, o trabalho, a vida pastoral e missionária. Maria simboliza a escuta, a oração, a intimidade com Deus. A fé autêntica precisa das duas. No entanto, Jesus nos ensina que o ponto de partida deve ser sempre a escuta. Caso contrário, podemos correr, trabalhar e nos ocupar até para Deus, mas sem sabermos o que Ele realmente quer de nós.
Na segunda leitura, São Paulo nos dá o testemunho do que é viver centrado em Cristo. Ele fala da alegria de sofrer por amor à Igreja e revela o grande mistério: “Cristo em vós, a esperança da glória.” Paulo compreendeu que tudo ganha sentido a partir dessa presença interior de Cristo. Não é simplesmente uma fé exterior, de práticas e ritos, mas uma vida enraizada n’Ele, com Ele e por Ele.
E o salmo de hoje completa essa mensagem, ao descrever quem é digno de habitar a tenda do Senhor: aquele que caminha com integridade, que fala a verdade, que vive com justiça. Em outras palavras, aquele que une a escuta da Palavra à prática coerente da fé no dia a dia.
Queridos irmãos e irmãs, que essa liturgia nos ajude a reequilibrar nossa vida espiritual. Talvez estejamos ocupados demais, correndo como Marta, mas esquecendo de parar como Maria. Talvez estejamos fazendo muito, mas escutando pouco. O Senhor hoje nos chama ao essencial: sentar aos seus pés, escutar sua Palavra e deixar que Ele nos alimente para que, fortalecidos, possamos então servir com mais sentido, mais paz e mais amor.
Que possamos acolher a presença de Deus como Abraão, escutá-lo como Maria, servir com dedicação como Marta, e viver com Cristo no coração, como Paulo.
Amém.
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