A Palavra de Deus que hoje nos é proclamada nos conduz ao coração do mistério da revelação divina. Três textos que se entrelaçam e nos convidam a perceber o quanto Deus deseja se fazer próximo, se comunicar e nos transformar pela sua presença.
No livro do Êxodo, contemplamos a experiência única do povo de Israel no deserto do Sinai. Ali, Deus se manifesta de forma grandiosa e tremenda: trovões, relâmpagos, nuvem espessa, som de trombeta… sinais de um Deus que é absolutamente transcendente, mas que, ao mesmo tempo, deseja estabelecer uma Aliança com seu povo. Ele diz: “eu virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo possa ouvir quando Eu falar contigo”. O Senhor se revela com poder, mas é um poder que deseja comunhão, deseja que seu povo o escute e o obedeça. O encontro com Deus, portanto, exige preparação, purificação e temor reverente.
O salmo de hoje, retirado do cântico de Daniel, é um hino de louvor ao Deus eterno, bendito e glorioso. Ele reconhece a majestade de Deus que está acima de todas as criaturas, e que, mesmo assim, habita “no firmamento do céu”. O refrão nos faz repetir: “A vós louvor, honra e glória eternamente!”. É a resposta do coração crente diante do Deus que se manifesta: adoração, louvor e exaltação.
O Evangelho nos coloca diante do ensinamento de Jesus sobre o porquê de falar em parábolas. Os discípulos questionam, e Jesus revela algo muito profundo: a Palavra de Deus não é apenas escutada com os ouvidos, mas com o coração disposto. As parábolas são um modo de revelar e, ao mesmo tempo, velar a verdade. Quem tem fé, escuta e entende; quem fecha o coração, mesmo vendo, não enxerga; mesmo ouvindo, não compreende.
Jesus cita o profeta Isaías: “O coração deste povo se tornou insensível…”. É o drama da resistência interior, da recusa em acolher o mistério. Por isso Ele diz: “Felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem!”. Essa bem-aventurança é dirigida aos discípulos de ontem e de hoje — a nós — que temos o privilégio de escutar a Palavra, de receber a revelação plena de Deus no rosto de Cristo.
Queridos irmãos, o que a liturgia de hoje nos ensina é que Deus continua a se manifestar. Ele vem ao nosso encontro, fala conosco, deseja fazer morada em nosso meio. Mas o modo como acolhemos essa presença faz toda a diferença.
A experiência do Sinai nos lembra que é preciso preparar o coração para o encontro com o Senhor. O Evangelho nos alerta que a fé não é automática: ela exige abertura, escuta e humildade. E o salmo nos convida a responder com louvor.
Peçamos, então, que o Espírito Santo abra nossos ouvidos e olhos interiores, que nos livre de todo fechamento, e nos faça acolher com reverência e amor a Palavra que salva. Que, como o povo no Sinai, possamos subir a montanha da fé com temor e confiança. Que como os discípulos, sejamos bem-aventurados por escutar a voz de Jesus.
Amém.
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